Com o aquecimento do mercado de carros usados vieram à tona diversas antigas polêmicas, que saem de oficinas mecânicas para as conversas de proprietários de veículos, sem a devida assessoria das marcas, muitas vezes comparadas sem critério. Baterias, silenciosos, blocos e peças, várias delas antes metálicas e agora em opções plásticas, inspiram mais perguntas que respostas. Para se começar – literalmente – de baixo, o pneu está em várias promoções de preços e na preocupação nacional.
Pneu é um ítem sensível para quaisquer veículos, mas os carros com mais de doze anos têm uma incidência muito maior de rodagem excessiva e prazos extrapolados de troca. É o que constatam as inspeções da Sociedade Brasileira Vida no Trânsito, instituição civil não governamental, que acompanha a postura de condutores e as motivações de acidentes no país. “Frota sucateada leva maior perigo às estradas, e o jeitinho brasileiro se encarrega de potencializar o problema”, alerta Romar Costa, dirigente da Vida no Trânsito. “O monitoramento oficial é negligente. O remold invadiu o Brasil, com preço um pouco abaixo e uma grande dúvida, se de fato compensa”, completa.
Romar acompanha a interação entre o poder público e as necessidades do sistema viário na região dos lagos, no Rio. “Ainda vemos muitos acidentes facilitados por vias que o poder público deixa esburacadas e sem sinalização. Os carros mais antigos têm segurança também precária. É preciso alertar que carro usado não pode ser carro largado”, afirma. Ele também observa os pneus da frota em circulação, e comenta: “Quanto mais enfrenta ruas impróprias e quebra-molas, maior deve ser a preocupação do motorista com os pneus, mas basta olhar o fluxo para se concluir que o uso vai muito além da validade”.
No custo de manutenção do veiculo com mais idade, os pneus respondem por uma parcela relevante, o que faz muita gente recorrer às promoções de pneus reutilizados, mais baratos que os novos. Uma dúvida volta com força ao mercado, que sofre uma invasão de marcas e pneus reaproveitados, em relação à diferença básica entre recauchutado e remoldado.
O ideal é a troca por pneus novos, que em geral suportam até sessenta mil quilômetros de rodagem. Os pneus remoldados se estragam aos quarenta mil quilômetros. Borracheiros dizem que os recauchutados se decompõem e se esfarelam antes disso. Vários deles classificam a ordem de segurança em pneu novo, remoldado e recauchutado; e alertam para a possibilidade de explosão de qualquer pneu reutilizado, quando o desgaste expõe a carcaça.
Engenheiro mecânico, e reconhecido como o jornalista de maior especialização em modelos e segurança de veículos, Boris Feldman esclarece dúvidas persistentes: “Veículos pesados, como aviões, ônibus e caminhões usam pneu recauchutado. O pneu ganha uma nova camada de borracha, sobre a antiga. No remoldado, toda a borracha antiga é removida, para se aproveitar a carcaça”. Feldman acrescenta que “o problema do remoldado no Brasil é que não se exige registro das características originais da carcaça. O perigo está na possibilidade de dois remoldados, aparentemente iguais, rodarem com estruturas de carcaças diferentes. Isso compromete”.