lEstripar o grupo social em pedaços psicológicos e sangrentos, rotulados em pequenos bandos de ‘gados’ ou ‘mortadelas’, e em grandes dimensões de conservadores ou progressistas, só atrapalha tudo: comunicação, convencimento, desenvolvimento humano, consumo e marca. Lançar palavras abrasivas contra o interlocutor obstrui o canal de entendimento e compromete a aceitação. Não é negócio.
Com implacável guerra de narrativas, os adversários alimentam o caos político e levantam a espada de ataque em todos os momentos e espaços, inclusive dentro de casa. Os divergentes convergem para o ‘cancelamento’, como autênticos negacionistas da persuasão.
O terceiro decênio do século XXI surpreende pelo saldo negativo em educação e estresse à flor da pele. Qualquer expressão ou comportamento, de qualquer pessoa e em qualquer lugar, já serve para glorificar uma corrente contra outra, supostamente inimiga. A alegada função ideológica é ilegítima, falsa e descabida.
Esta falha de comportamento invade o ambiente de produção e comprime o potencial colaborativo de pessoas na equipe. Em chão de fábrica ou no escritório, no balcão do comércio ou na clínica médica, a abordagem requer especial atenção ao objetivo, sem espaço para inflamações, que liberam rancor e podem ocasionar desistências e prejuízos extemporâneos.
A pacificação exige cuidado preventivo do responsável em impedir desvio de função. Quando o chefe deixa claro que ali não é arquibancada, e sim local de cumprir o trabalho e alcançar os resultados combinados, a preservação do bom senso se mantém viável.
Entretanto, qualquer ambiente comercial está sujeito à coordenação de um líder ainda não submetido à pressão do debate imoderado, que correlaciona aspectos da política à vida social do seu grupo de trabalho. O chefe não pode ser dispersivo, porque sua opinião exerce autoridade e se confunde com apoio a um dos lados de um conflito etéreo, um custo que não gera benefícios. A liderança que se submete gratuitamente a risco de credibilidade queima muita energia, que é esgotável.
Estamos em meio a uma gincana da insanidade, estimulada por disputas eleitorais de estandartes morais, com pautas identitárias e reivindicações emergentes. Discutem-se e advogam-se adoções e supressões que vinculam opções sexuais, marco racial, critérios de emprego e diversas outras pendências da sociedade.
São várias as frentes, que oscilam entre o prodígio do discurso e os resultados. Pelo computador ou celular, a opinião pública incendeia a ordem natural das coisas. Independente de todos terem sempre alguma dose de razão, conforme o viés verbalizado, o saldo geral é sempre negativo, quando as pessoas subtraem relevância da finalidade do encontro.
Impressionante que executivos de marketing também arrisquem marcas prodigiosas em engajamentos ocasionais e excludentes. Nas redes sociais, uma quantidade crescente de negócios subverte a lógica da soma e da multiplicação, ao aderir a posições políticas que dividem e subtraem públicos.
Imagine um perfume pagar para dizer que você não é bem-vindo como cliente. Não devido a uma incongruência dermatológica, que anule o efeito da essência, mas por porque você e o produto ‘pensam’ de modo divergente. Agência e gerência de marketing compram espaço na mídia para proclamar guerra à manifestação de um perfil de clientes. Portanto, um esforço que reduz o universo em potencial. Uma estratégia que pode ter teses, mas carece de teoria.
São autorizações intempestivas, campanhas publicitárias passionais, que expõem a marca no bate-boca do suposto ‘politicamente correto’, como ações de marketing que visam à vanguarda. Um erro monumental, pois o lado certo da marca é a da qualidade de sua linha de produtos, para todos que a aprovarem.
Neste retrocesso fático, algumas holdings sacrificam algumas de suas marcas mais valiosas, sob o exasperado discurso que opõe alguns influenciadores contra milhões de consumidores, em defesa ou ataque a opiniões sobre direitos estabelecidos em lei ou que ainda fervem na panela de pressão da sociedade, como reivindicações segmentadas.
Somente em hipóteses muito viciadas um executivo é capaz de justificar, para um acionista ou cliente, que sanduíche, desodorante ou loja de seu portfólio venderá mais ou terá maior aceitação, porque apoia uma determinada posição política de uma banda de sua clientela, em detrimento de outra, às vezes bem mais numerosa. Bem mais simples – e barato – é primar por uma conduta assertiva de cidadania, e propagá-la para todos os clientes, com conduta de agregação.
Uma companhia que fabrica carro e acha cômodo subscrever protestos de ambientalistas nas redes sociais demonstra uma hipocrisia se, por exemplo, trabalha sob contradições, devido à sua linha de modelos a diesel. Além de mero oportunismo, não há razoável explicação para marca de hambúrguer circular entre postagens agressivas sobre…sexualidade.
É uma ação de marketing desfavorável, que evidencia e colide com o processo pavorosamente assexuado de abate, de mistura de ingredientes para a conservação da carne em longo prazo e de consumo de água em excesso, inclusive próximo a escolas onde as crianças não têm, sequer, bebedouro.
A pressa de aproveitar o rebuliço e ganhar simpatia de um lado ou outro, em um debate politizado e traiçoeiro, é uma aceleração em marcha à ré. Por enquanto, o saldo é negativo dentro de casa e no ambiente de trabalho; e muito incompreensível para empresa, marca, produto, serviço, atendimento e mensagem publicitária comercial, que ainda têm longo caminho a percorrer, no esclarecimento sobre como produz o que o cliente compra.